A cada semana, o Chambers Dictionary of English (1950) foi aberto numa letra, seguindo a ordem do alfabeto.
A cada semana, três palavras foram sorteadas, e uma escolhida.
A cada semana, a palavra escolhida deu origem a uma fotografia — nem sempre da forma mais clara, por vezes com referências vagas, mas sempre com um ponto de partida comum: o dicionário.The Alphabet Tales foi um desafio sugerido na forma mais crua por alguns amigos da fotógrafa que, na procura de um tema para uma série de auto-retratos, chegaram a ‘letras’ como base. O dicionário Chambers, pequeno e com capa de um tom vermelho-escuro, foi encontrado num alfarrabista da Rua das Flores, no Porto. Custando um valor quase simbólico, tornou-se o centro do projecto.
A temática do auto-retrato, sempre presente na obra concetual da fotógrafa, está aqui representada não só na forma do retrato tradicional (retrato de face ou meio corpo) mas também na representação da pessoa como apenas um elemento da sua fisionomia. As mãos e a boca, especialmente, são usadas como personagens próprias, criando histórias sem a necessidade da representação típica do olhar.
O uso de uma estética que oscila entre a escuridão e a magia, típicas do trabalho da fotógrafa, e o uso de texturas e molduras em alguns dos casos conferiram um tom homogéneo ao conjunto fotográfico, apesar de os conceitos serem, por vezes, quase diametralmente opostos. Os elementos recorrentes — caveiras, borboletas, sangue — símbolos associados em partes iguais à morte e à renovação, são usados frequentemente aqui, como no restante corpo de trabalho da fotógrafa.
The Alphabet Tales teve como objetivo inicial a criação contínua, regular, e a evolução que daí advém. O resultado final é uma série que oscila na temática ao mesmo tempo que apresenta uma seleção de histórias e de contos que fazem parte do imaginário da autora.
Ana Luís Pinto fala do seu traballo.