JOANA MATOS

Quando saíres, deixa a luz acesa

CAAA (Centro para os Asuntos de Arte e Arquitectura) | Guimarães
No âmbito dos Encontros da Imagem Festival Internacional de Fotografía e Artes Visuais
de 22 de Setembro a 28 de Outubro de 2023
Curador: Vítor Nieves
Produção: IPCI (Instituto de Produção Cultural e Imagem)

O trabalho de Joana Matos mergulha nas profundezas do luto feminino, um tópico frequentemente envolto em silêncio e vergonha. Através de uma abordagem íntima e uma característica sensibilidade, a autora traz à tona esse aspecto muitas vezes oculto. Desafia os estigmas sociais e empodera as mulheres a reivindicarem o seu direito de lamentar, chorar a perda e socializar a dor e as emoções.

Este diário visual adentra os tabus dos estados emocionais que são desencadeados após a perda gestacional, entrelaçando-se com uma história de amor que se estendeu por 15 anos, apenas para enfrentar a dolorosa ruptura do divórcio. Através de um olhar retrospectivo, testemunhamos a inabalável força interior da protagonista enquanto navega pela complexa paisagem do amor, da perda e do anseio poético por um bebê que nunca teve a oportunidade de conhecer. Em meio à desolação, confronta emoções frequentemente ignoradas: o luto, o vazio e a solidão.

«Quando saíres, deixa a luz acesa» é um testemunho da resiliência do espírito feminino. Através das imagens que tecem duas narrativas, desvenda-se o desamor e o luto quase como um ente único, que lhe permite à autora assumir a(s) perda(s), e honrar a memória enquanto navega pelas complexidades dos relacionamentos (companheiro e gestação) que se sobrepõem com uma harmonia magistral.

Cada imagem projeto é uma janela que transforma o espectador ou espectadora em voyeur involuntário, que penetra os interstícios da intimidade para testemunhar momentos de vulnerabilidade e força com igual intensidade.

A exposição transcende o individual, transformando-se numa narrativa universal sobre o poder curativo da arte e a importância das emoções e dos cuidados. Um diário que é à vez um santuário, uma tela para emoções e um meio de validar a dor.

Vítor Nieves. Curador