

* (E por momentos a forma das coisas desapareceu)
A forma como o homem se relaciona com a morte tem vindo a mudar ao longo dos tempos, se na idade média a finitude humana era vivenciada com familiaridade, no séc XX passou a ser uma espécie de «não acontecimento».
Numa sociedade caracterizada pelo desejo de prolongar ao infinito a juventude, a representação da conclusão do ciclo de vida passa a ser vista como um fracasso e por isso deve ser evitada. Contudo, se não temos a capacidade para definir os limites da nossa própria vida, como é que nos podemos relacionar com ela e connosco?
Da contrariedade de sentimentos que surgiram após a morte do meu pai e que me obrigaram a pensar acerca das limitações da existência humana, resultou o presente projeto que procura refletir sobre a forma como lidamos com a perda de alguém que nos é próximo e com a consciência da nossa própria finitude.
Tendo em conta que estes conceitos materializam-se por meio de uma prática que imortaliza a vida através da sua representação, o que significa para a fotografia retratar a ausência do seu referente e qual o seu papel nas experiências do luto?
Através de uma narrativa entre forças opostas e complementares, entre o presente e o ausente, realidade e ficção, entre o cá e o lá, está o ir e vir de uma jornada que procura uma visão mais alargada da nossa razão de ser. Talvez entre o balancear de saber-se mortal e desejar-se imortal possamos encontrar uma oportunidade para viver em profundidade.
Joana Dionísio.