DEPOIS DO DOCUMENTO

Fotografia portuguesa para a nova década

Ana Rego, Bruno Silva, Carlos Trancoso, Diana Sá, Fátima Abreu Ferreira, Inês Fernandes, José Alves, Miguel Vieira Pinto, Pedro Malheiro y Raquel Calviño.

Título original: «Después del documento. Fotografía portuguesa para la nueva década»
Llotja del Peix | Alicante
PhotoAlicante 2020
7 de Março de 2020
 
Curador: Vítor Nieves
Produção: António Pedrosa – IPCI (Instituto de Produção Cultural e Imagem)

[leer en español]

O contexto da fotografia portuguesa, semelhante ao da fotografia europeia, está nos últimos anos em questionamento, vagando por diversas questões no plano do conceitualismo e, consequentemente, abandonando as inerentes à especificidade do meio.

Após a grande tradição salonista dos anos 60, focada nos dois grandes eixos urbanos (Porto e Lisboa), a fotografia iniciou uma longa viagem rumo ao que muitos defendiam como o seu fim, e outros como o seu renascimento na década dos 90 do século passado. Nesse meio tempo, o surgimento de museus de arte contemporânea e de galerias que, timidamente, introduziram a fotografia nas suas paredes e coleções, a proliferação de artistas – principalmente pintores – que sucumbiram à prática fotográfica, e a chegada de importantes exposições internacionais, assim como a saída de fotógrafos para as bienais internacionais, semearam um novo mapeamento das artes em Portugal, onde a fotografia gradualmente usurpou o lugar da pintura.

Os festivais, criados nos anos 80 e as novas escolas que ensinavam conceitos pós-modernistas e instilavam que a conceptualização tinha que ganhar peso em detrimento dos ensinamentos próprios do meio, desempenharam um papel muito importante nesse processo.

A fotografia digital explode nos anos 90, gerando a segunda democratização depois da criada por George Eastman, onze décadas antes. Mas a fotografia digital não levou apenas a uma propagação pandémica de dispositivos e fpm (fotografias por minuto), mas significou também uma mudança de paradigma, muito bem explicada pelo triunvirato formado por Kevin Robins, Lev Manovich e William Jhon Thomas Mitchell que, em diferentes publicações, locais e em diferentes datas, do primeiro lustro dos anos 90, falaram sobre a morte da fotografia (ou pelo menos como era entendida até então) e o nascimento de algo novo que eles batizaram como pós-fotografia.

O IPCI (Instituto de Produção Cultural e Imagem) nasceu na era pós-fotográfica e, por algum tempo, transmite conhecimento e gera cultura numa linha diferente da do seu entorno, o que contribui para a consolidação de novos contextos na fotografia portuguesa.

O elenco de artistas desta exposição, todos eles emergentes, provém de diferentes origens, muitos deles artísticos, e concluíram recentemente o Máster em Fotografia Artística do Instituto de Produção Cultural e Imagem (IPCI, Porto). Todos eles, portanto, construíram a sua cultura visual e formação após os anos 90. Representam essa geração com novas maneiras de ver e fazer, com novos discursos críticos que, aos poucos, conseguem ser visíveis em festivais, bolsas de estudos e prêmios, implodindo o discurso hegemônico estabelecido pela geração que se destacou nas estruturas dos anos 80 e que desde então foram legitimados pelos diferentes agentes do sistema da arte e nada mudaram nos seus discursos.

Esta exposição não pretende ser um passeio exaustivo pela fotografia portuguesa ou um mapeamento que inclua todas as práticas fotográficas existentes hoje, mas sim gerar uma ampla visão da fotografia praticada hoje no campo da arte em Portugal, deixando uma aparte a análise da disciplina no oficio e da fotografia vernacular.

Após a morte da fotografia como a conhecíamos no passado, mais próxima dos conceitos de documento e memória, as estratégias para a construção da fotografia na última década, como disse Emília Tavares (curadora e crítica especializada em fotografia), são o trabalho em séries, a autobiografia, a apropriação de memórias, a intimidade, a reconstrução de contextos do real, os dispositivos e a percepção, o arquivo e a comparação e o trabalho de campo”.

E esses foram os eixos temáticos a partir dos quais fizemos a escolha dos trabalhos que conformam esta exposição em Photoalicante.

Vítor Nieves. Curador

Cartaz da exposição.