Em contramão: da desumanização aos cuidados

Ciclo expositivo Imago – IPCI

Sandra Valle, João Mota da Costa, Ana Rego e Philipe Gabriel.

Director artístico: Vítor Nieves
Curadores: Vítor Nieves e Rui Prata
Produção: Denise Cunha (Imago) António Pedrosa (IPCI – Instituto de Produção Cultural e Imagem)
 
Galeria Imago | Lisboa
21 de Janeiro a 15 de Jullho de 2023

Em contramão: da desumanização aos cuidados.

Neste ciclo expositivo quisemos criar um percurso no qual o/a espectadora transitará ao longo deste primeiro semestre de 2023. Para isto, tivemos em conta não só o espaço e a sua localização, mas também a próxima exposição programada que, por motivos de agenda, se intercala com as exposições co-programadas pela Galeria Imago e pelo IPCI.

Assim, por um lado, o nosso trabalho pivotou entre a adequação ao ‘Cubo Branco’ e o público-alvo do espaço e, por outro, na criação de um diálogo com o segundo momento expositivo, previamente programado pela Galeria Imago, tentando abraçar o trabalho de João Mota de Costa, «Angústia», criando uma narrativa transversal ao tempo e aos momentos expositivos marcados no ritmo mensal, habitual na programação galerística.

De esq. a dir: os artistas Philipe Gabriel, Sandra Valle, Ana Rego e o curador Vítor Nieves.

Uma narrativa que começa na frieza analítica de Sandra Valle e o seu trabalho «Ninguém termina na ponta dos dedos» que, parafraseando os futuristas, adianta-se a uma sorte de tempos vindouros que desumanizam as cidades e, portanto, a sociedade. Um trabalho com landscapes escultóricas nas quais a ausência de cores enfatiza a crueza da realidade que a autora prognostica. Com este dilacerante começo, só nos cabe ir em contramão, recuando desde esse discurso para uma meta mais emocional, por um caminho humanizante. Embora essa ligação com o escultórico também esteja presente na obra de João Mota de Costa, que parece apresentar-nos imagens distantes do que definimos como inexoravelmente humano. Apesar disto, os espaços esvaziados de elementos vivos ficam embrulhados numa atmosfera latente que nos traslada para o plano emocional, como o próprio título indica.

Conforme avançamos neste ciclo, esses estados emocionais medram, aproximando-nos de discursos que saem do pessoal, do íntimo. Para meados de Abril, Ana Rego traz-nos um projecto no qual se apropria de memórias alheias que torna próprias por estarem atravessadas pelo vínculo familiar. «Não poder viver senão uma vida» é um ensaio visual poético e interdisciplinar entre arte e ciência, que aborda a dualidade corpo-mente e o significado de estar vivo quando se é totalmente privado de autonomia e capacidade de comunicação.

Em sintonia com essa apropriação de memórias, virá a seguir a exposição de Philipe Gabriel, «Pele», que, através da intervenção de fotografias vernaculares encontradas na Feira da Ladra, relata uma relação materno-filial com concomitâncias autobiográficas. A relação que estabelece com as imagens desenvolve aprendizagens da sua infância com o intuito de as desaprender. Nas palavras do artista: «costurei sobre as imagens a dor de nascer estrangeiro num corpo de pele arranhada».

Vítor Nieves. Director artístico.

(Por opção do autor, este texto não foi escrito ao abrigo do Acordo Ortográfico de 1990.)


Primeiro momento expositivo

SANDRA VALLE
Ninguém termina na ponta dos dedos
21.01 – 18.02.23
Curador: Vítor Nieves


Segundo momento expositivo

JOÃO MOTA DA COSTA
Angústia
25.02 – 08.04.23
Curador: Rui Prata


Terceiro momento expositivo

ANA REGO
Não poder viver senão uma vida
15.04 – 27.05.23
Curador: Vítor Nieves


Quarto momento expositivo

PHILIPE GABRIEL
Pele
03.06 – 15.07.23
Curador: Vítor Nieves